Bens terrenos - Carmelita ( recuperada )

Bens terrenos - Carmelita ( recuperada )

 

A vida nos apronta o inesperado, e numa fração de segundos nos deparamos com ela, e só então passamos a compreendê-la melhor.

A vida material é muito convidativa, cheia de atrações e jóias falsas. Mas é preciso passar por uma dor profunda para entender que ela de nada vale, sem os valores da alma que dignificam e dulcifica o homem.

Até viver sem os problemas, pela angustia esses valores monetários, estão muito acima das nossas almas, lamentavelmente.

Felizmente chega o dia que nos deparamos com a triste realidade: a passagem dessa vida para a outra.Ao chegarmos lá, somos iguais em nada diferindo do indigente,pois todos somos feitos da essência pura manipulada amorosamente pelas mãos do criador.Apesar do império que tive  na terra, não fui recebida como achei. Fiquei estupefata ao ser tratada sem a menor regalia. E assim a minha decepção se aproximou: Então, morrer como dizem muitos, era aquilo?

Chegar num plano onde ninguém me reconheceria como uma senhora importante e dotada de grandes bens?

Foi decepcionante. Estava ali como qualquer ser vivente numa vida nova, sem absolutamente nada que construí juntamente com a minha família: mansão, dólares,carros importados, jóias caras etc, tudo havia ficado lá embaixo.Eu estava ali sozinha sem os amigos que se reuniam em chás da tarde, solenidades, prêmios e outros eventos.

Eu, senhora de inúmeras posses na terra, sendo tratada como qualquer outra?

 Pensava nos vestidos, nas jóias, e nada mesmo havia levado . A primeira intenção que tive, foi a de não render-me a estar ali juntamente com outros níveis de pessoas que não era do meu grupo de convívio social.

Isolei-me. De nada adiantou, me sentia a mesma, só, sem amigos, e por cima frustrada!

Passei muitos dias assim. Quis voltar a minha casa por várias vezes e não me permitiram. E, afinal, o que adiantaria?

Não podia trazer nada de volta!

Observava a tudo. Quieta vi que aqui imperava muita bondade, e que ninguém era tratado diferente, e sim, todos de igual forma com bastante carinho, inclusive comigo.

Enfim, fui como diria “amansando” o meu posicionamento, sabia que o meu caso em nada seria revertido.

E os dias que não sabia quantos foram passando , porque não temos o mesmo relógio da terra. Por aqui é sempre dia. Tentei render-me, mas não deu. Envergonhada pedi aqueles distintos amigos (trabalhadores do bem) que me ensinasse algum serviço que pudesse ocupar o meu tempo.

 

Eles aquiesceram o pedido e deram-me uma vassoura, que em nada se parece com as tradicionais que conhecemos para eu fazer limpeza dos excrementos etéricos do chão. Achei uma afronta, mas eu havia feito um pedido e não especifiquei.

 

Para mim foi uma verdadeira tortura. Logo eu que nada fazia em termos de serviços domésticos...

 

Fiquei revoltada, mas aceitei. Na medida em que manipulava aquela vassoura moderna, refletia sobre tudo que havia deixado, e realmente fui percebendo que o tempo era importante demais para nós, e que eu havia perdido parte dele em atividades completamente supérfluas!

 

Cada dia eu fazia aquele serviço mais animada. Mas quando o aceitei de coração, deixou de ser um peso para se tornar satisfação.

 

Como os instrutores do bem aqui observam tudo, após adaptada, fui designada para outro setor, o de recepção. Foi outra experiência maior, porque mantive contato com muitas dores que eram verdadeiras.Ao entrevistar o recém chegado que já tinha condições de diálogo, comecei a ver as diferenças de cada ser. Dessa forma   os bens materiais e passageiros foram ficando para trás. É como se eu tivesse perdido tudo e estivesse me adaptando à vida de pobre necessitado.

 

Passei a me interessar pelos estudos, e o mais veio como conseqüência. Aquela vida de brilho que me fez madame, hoje nada mais representa, porque a riqueza da alma é algo que se conquista ao longo do tempo e ninguém, ninguém mesmo vai nos tirar, porque são os nossos verdadeiros bens que se incrustam na alma para nunca mais nos deixar.E a partir daí vamos distribuí-los em nossa   jornada a quem quiser abrir os olhos para enxergar além, muito além da construção dos tesouros materiais.

Espírto - Carmelita ( recuperada )

Canal: Francyska Almeida-Fortaleza -Ce.